terça-feira, 27 de abril de 2010

Meu Filho

Por Leandro Rocha


Meu filho, não posso descrever com palavras o dia em que você nasceu, não posso descrever a felicidade que senti ao bater os olhos pela primeira vez em você, frágil e vulnerável na incubadora, mesmo nas primeiras horas de vida, já tinha a cara do pai.

Você cresceu rápido e aprendeu com seu pai a jogar bola, mesmo não gostando muito acabou fazendo minha vontade e se tornou um excelente lateral direito, ainda guardo sua medalha de ouro de futebol das olimpíadas da sua escola.

E o Jiu-Jistu? Sua mãe sempre contra, um esporte violento, ela dizia. Coisa de mulher. Você sempre me deu orgulho em suas lutas, assisti todas que pude e uma que não podia, lembro das complicações que tive ao faltar uma reunião de trabalho para te ver em uma final de campeonato, você perdeu, eu sei, mas para mim, meu filho, você será sempre o campeão.

Sua adolescência chegou com um piscar de olhos, junto com ela veio a rebeldia, período difícil para nós dois, você não fazia o que eu queria, não entendia que eu sabia o que era melhor para você! Filho, me perdoe, confesso a você que conversei com amigos militares para que você não fosse dispensado do exercito, a carreira militar faz parte do amadurecimento de um homem e espero que um dia você reconheça isso e me agradeça.

Chegou o período da faculdade e o vestibular, pedimos a você que esquecesse a idéia de fazer musica e que fizesse medicina, que fosse medico, como eu, você fez, contrariado, amadurecia e percebia que a experiência de vida dos seus pais contavam mais do que sua vontade “anarquista”. Me orgulho dos seus estudos até a exaustão, eu sempre estava la para te dar um apoio, mais 5 minutos meu filho, mais um capitulo.

Você passou e ate hoje vejo as fotos do seu trote no primeiro dia de aula, sua felicidade estava estampada no rosto.

Foram anos difíceis, mas você conseguiu, entrou um menino e saiu um homem, um homem bonito, alto. Hoje deve concordar que foi a melhor escolha, aprendeu uma bela profissão e superou alguns medos, o de sangue e o de cadáveres, medos bobos meu filho, como sempre te falei.

Sua beleza hipnotizava as mulheres, mas dentre tantas você escolheu a pior, me desculpe ainda falar dela assim, mas ainda a abomino, mas você não foi abençoado só com beleza mas também com bom senso e depois de tanto te avisar, você percebeu que não a amava, como dizia com tanta propriedade, e que ela era uma interesseira.

Você saiu de casa, ia começar sua vida com sua esposa, essa sim aprovamos, excelente mulher. Mas sair de casa não significa perder os pais e sempre estivemos ali, presentes e supervisionando você, já era bem sucedido na medicina mas a experiência do seu velho pai ainda lhe servia, muito.

Me culpo por ser tão cego, me culpo por não perceber que a vida que eu montei para você e que você seguiu, muitas vezes contrariado, lhe faria tão infeliz no final, que lhe faria tomar uma atitude tão trágica, preferiria que você me tirasse a vida e não a própria, meu filho, essa ferida não irá cicatrizar.

Um pai não deve enterrar um filho, não há dor maior e, por isso, não fui ao seu enterro. Sua mãe foi e sei que isso gerou comentários, mas ninguém sabe o tamanho da minha dor.

Meu filho, todos os dias peço que me perdoe e espero que, quando a minha hora chegar, eu possa te encontrar, que você me de um abraço. Se pudesse voltar no tempo deixaria que você tomasse as suas atitudes, as suas escolhas, mas não posso, espero que outros pais não façam o que eu fiz, os filhos sabem o que é melhor para eles próprios.

Me perdoe, filho.

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