terça-feira, 13 de abril de 2010

O sabor amargo do algodão doce (final)

Por Rodrigo Santos

“Saía de um inverno quente,
para entrar numa primavera com tempestades de verão...”

Assim como toda tempestade de verão, que carrega em suas gotas, toda frieza da natureza, caindo na terra e levando consigo tudo o que a ela interessar, sem ao menos pensar nos outros, era a vida do menino. Ele já começava a se libertar das garras da sociedade que o julgava pela sua fome inexplicável, as conversas com a moça da serra o ajudava bastante nisso também. Já estava me esquecendo de falar nela...
Toda terça-feira de lua cheia, o menino subia a serra do rancho para se encontrar com uma moça muito misteriosa, ela parecia saber sempre de tudo... Sabia de suas vontades, de seus amores, suas frustrações, de seus pecados, e como sabia, e claro não podia falar o algodão doce... Embora soubesse, era um assunto pouco discutido entre eles, até aquela primavera.
Vocês devem estar se perguntando... E aquele algodão de gosto indefinido que o menino tinha encontrado? Pois bem, esse já não era tão indefinido assim, era doce, muito doce, mas não era enjoativo, não para aquela boca, que já estava acostumada com tantos sabores diferentes.
Como em toda história, passou-se algum tempo, mas nunca a vontade de comer algodão doce. Mas agora era diferente, o menino só comia algodão, alguns até chegaram a ver o menino passando pela praça das pipocas comendo seu algodão doce, ele já não se importava com os pensamentos e os olhos recriminadores das pessoas, ele era dono de si, não precisava de ninguém para nada, mas muitos precisavam dele para tudo, ou quase tudo. Os dias de lua cheia o fazia acreditar nisso.
Hoje em dia, o menino continua saboreando o mesmo algodão doce de sempre, cada dia com mais vontade, com mais desejo... Não importa se, assim como um saco de pipoca, um algodão doce também acaba. Se acabar, ele compra outro do mesmo dono, da mesma cor, do mesmo sabor, será o mesmo! E se algum dia ele não tiver mais o mesmo, ele levará em sua história o eterno sabor daquele algodão que marcou sua vida, não se importando com o seu sabor amargo, que para o jovem garoto, que hoje nem é tão jovem assim, será eternamente doce.
Fim? Não!
Essa história nunca terá um fim, pode acabar todo algodão doce do mundo, pode sobrar algodão doce, o menino pode morrer, e ele vai um dia, mas o sabor amargo do algodão doce nunca morrerá, sempre haverá alguém, próximo ou não do menino que seguirá esta história... Sempre haverá pipocas, algodões, balas, pirulitos... E sempre haverá alguém que irá comê-los.
Fica aqui um conselho dos dias de lua cheia, se não te faz mal, coma! Açúcar e sal fazem mal para diabéticos e hipertensos, se a doença não é sua, coma, se lambuze, mesmo que se arrependa depois. Não se importe se o açúcar faz mal para aqueles que se incomodam com você, se te faz bem, o doente em questão não é você! Pense que você terá histórias para contar para seus netos, ou melhor, pense que um dia você poderá ser a própria terça-feira de lua cheia...

Um comentário:

  1. Amei a história!!! Vamos aprender a comer o nosso algodão sem nos preocupar com os outros, com o amanhã, com o futuro...

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