sexta-feira, 23 de abril de 2010

Jorge Tadeu

Por Rodrigo Santos

Jorge Tadeu é Paranaense, filho de Jorge, neto de Jorge, Ogum é seu padrinho, Jorge é seu padrinho...

Morava em Vila dos Cabanos, distrito de Barbacena, embora não aparenta-se, tinha uma vida boa, por conta de seu trabalho. A Companhia sempre dominou bem aquela região, mas Jorge não, ele não dominava nada, quem dominava era sua companheira Dolores. A maioria dos moradores da região a conhecia, ou pelo menos, já tinham ouvido falar em seu nome. Sua fama não era a das melhores, mas ela tinha bom coração, e disso ninguém duvidava.

Todo dia 23 de Abril era o mesmo ritual... As cinco da manhã Jorge levantava, chamava seu filho, Jorge também, e iam para praça soltar os fogos da alvorada... Toda vizinhança já sabia que todo ano Jorge estaria lá com seus fogos, até mesmo no ano em que Jorge pai faleceu, Tadeu estava lá, em memória de seu pai, não soltou todos os fogos, mas soltou alguns... Ritual é ritual.

Jorge perdeu seu emprego na Companhia e com ele seus amigos, que nem eram amigos de verdade, perdeu sua mãe, sua família, perdeu sua paz, perdeu parte de sua vida, para ele, perderia ela por completa...

Ao contrário do nome que carregava, Jorge não era guerreiro, talvez por influencia do Tadeu, mas não importa, no fundo são os mesmo. Jorge poderia ter esquecido de tudo, mas nunca do dia 23, e assim era, ele continuava, mesmo sozinho, todo dia 23 de abril levantando às 5h da manhã e soltando os fogos na alvorada, mesmo sozinho cada pólvora que explodia, era como se ele senti-se vida dentro de si, era como se alguém fala-se para ele seguir e nunca desistir da vida, mesmo que pareça estar sozinho....

Hoje é dia 23 de Abril, é dia de Jorge. Tadeu certamente está, neste momento, pois são 5h, com seu braço esticado no meio da praça, soltando seus fogos, anunciando aos céus que ali também tem um Jorge...

Essa história é para todos os Jorge que conhecemos, seja Tadeu, João, Marcos e até mesmo Maria... Todos nós temos um lado Jorge na vida, um lado guerreiro, que demoramos a descobrir, às vezes é preciso perder muita coisa, às vezes é preciso perder tudo, para que esse Jorge grite ao nosso coração, como as horas, que na verdade são minutos, dos fogos de reveillon.

Salve Jorge!

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