Por Rodrigo Santos
“enquanto eu não encontrar o meu algodão, cada dia será um,
cada dia uma cor, cada dia um novo sabor...”
O verão foi embora, chegando o outono, nesse os dias eram mais frescos e mais curtos ainda, do que os outonos de costume. O desejo do jovem menino começava a enfraquecer, feito as folhas do outono que se desprendem das grandes árvores, e pequenas também, e vão ao chão...
Ele já sabia, onde encontrar, como comprar, não sabia qual algodão era o mais gostoso, embora naquele momento, mais gostoso ainda era a procura intensa, que já não era tão intensa, que já não era nem mais intensa, que já não era....
Na cabeça daquele jovem, ele já tinha realizado seu desejo, se antes ele queria O ALGODÃO, de um dia para o outro ele nem queria mais, para ele o grande algodão foi o dia que ele teve todos, para quer querer mais? Como o próprio nome diz, é doce, é arriscado, pode dar diabete ou coisa pior... Bom mesmo é a pipoca, todo mundo come, pode ser doce, pode ser salgada, pode ser sem gosto, pode ter queijo, bacon... Uhnn, pode ter bacon!
Então é isso, pipoca! O menino começa a comer apenas pipoca, ele até gosta de pipoca, mas para ele, algodão doce é algodão doce... Certo dia, caminhando na antiga praça, que não caminhava a tempo, encontra um certo senhor, que aparentava ter uns 80 anos, sentado num banco em cima de um formigueiro, as formigas andavam nos seus pés, de forma que já não se sabia o que era o pé do senhor, formiga e pipoca, pois a panela transbordava pipocas para toda parte... Aquela cena chamou a atenção do menino que foi em direção ao senhor, com a intenção de ajudá-lo, o homem por sua vez não fez questão de sua ajuda, muito mal perguntou se queria salgada ou doce, sem nem se levantar daquele banco, parecia estar grudado ali, e estava... O menino que nem queria comer a pipoca, acabou comprando, com o intuito de ajudar o velho homem.
Por comodidade, pena, vontade ou algum sentimento qualquer, o menino começou a comer apenas pipoca, a pipoca do homem sério, como ele apelidou. Com o tempo, tornaram-se amigos, talvez o primeiro amigo de verdade do velho, até hoje ninguém sabe ao certo, só o pipoqueiro. Com o tempo, o menino ajuda o senhor a se levantar daquele banco, ele tira as formigas de perto, mas sem matá-las, ele não faria isso com as formigas, pobre formigas...
Como todo desejo, se não for bem sanado, iremos sempre em busca da realização. E se for bem, vamos em busca de uma repetição. Não ia ser diferente com o menino... Por mais pipoca que ele comesse, seja doce, salgada, com ou sem bacon, não existe pipoca sabor algodão doce, nem as de microondas. O desejo voltava a rondar a mente do jovem garoto, mas o medo sempre via junto. Por mais que ele sabia onde encontrar, um de qualidade, ou pelo menos variedades, o fato de estar sempre sozinho nessa busca, o deixava sempre na vontade...
Um novo outono chegou, dessa vez, diferente do outono passado, o que caia junto com as flores, não era o desejo de comer algodão doce, e sim o prazer da pipoca. Ainda no outono o menino começa a comer pipoca, agora sempre doce, ele volta na praça dos algodões, dessa vez sozinho, encontra um algodão, com um gosto ainda meio indefinido, embora não tivesse comido ainda, ele já sabia que aquele algodão ao mesmo tempo em que era doce, era amargo, era até salgado, talvez por influencia da pipoca...
O inverno chega, talvez para o velho homem que vendia pipoca, devia ter sido o inferno mais frio, tão frio ao ponto de doer todas as juntas fracas daquele senhor, que agora se tornava mais fraca ainda, pois já não tinha mais aquele menino ao seu lado para comprar sua pipoca, para conversar com ele, para expulsar aquelas formigas, para dar vida a sua vida...
E a vida do menino? Ah, essa já não tinha mais estação correta... Saia de um inverno quente, para entrar numa primavera com tempestades de verão...
Continua...