domingo, 20 de junho de 2010

A melhor pessoa do mundo

Por Leandro Rocha




Meu nome não importa o que importa é o que eu sou. Já me falaram coisas muito agradáveis, que sou bom, que sou perfeito, um exaltado já me chamou de a melhor pessoa do mundo, mas não acho, sou tão comum quanto você que lê.


Sou inteligente, me dou bem com números e letras, cresci ouvindo que sou superdotado e autodidata, de fato já aprendi muita coisa sem auxilio, só de ler rapidamente num livro ou ouvir uma única vez, devo isso a minha memória, que é fotográfica.


Minha saúde é boa, dificilmente fico doente e quando fico não passa desses resfriados bobos que saram de um dia para o outro. Tenho alimentação balanceada e faço exercícios todos os dias, gosto de sentir o ar puro e por isso corro todos os dias na beira da praia.


Fui bem educado e trago comigo os ensinamentos de meus pais, abro a porta e puxo a cadeira para minha esposa, pago a conta, dou a ela flores e chocolates e a presenteio em dias que não são de comemoração. Gostamos de tirar férias juntos no trabalho para que possamos viajar pelo mundo, é sempre renovar a lua de mel.


Sou bem sucedido profissionalmente e no amor, sou alto executivo em uma grande empresa e tenho uma situação financeira estável e que me permite certos exageros.


Gosto de musica e não de estilo, danço de tudo um pouco, do mais clássico ao mais popular, sou bom dançarino desde que me conheço por gente e aprendo novos passos com facilidade, basta ver.


Estou sempre informado, ligado na televisão, internet, radio e jornal, gosto de estar por dentro da política, economia, entretenimento e cotidiano, instruo meus filhos e os ensinos na medida do possível.


Sou temente a Deus, faço caridade mantendo duas instituições beneficentes, casei-me na igreja e mantenho os votos fielmente, sequer passa pela cabeça trair minha mulher, apenas a morte irá nos separar.


Ao contrario do que muitos dizem, não sou perfeito, confesso que peco na falta de humildade, mas isso é admitir minhas qualidades. Sei que tenho outros defeitos, mas consigo escondê-los entre as qualidades. Sou uma pessoa bem relacionada, tenho muitos amigos e podemos eu e você, sermos amigos também.


Ah, há apenas um pequeno problema que estava esquecendo de mencionar: eu não existo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Falar Moderno



Por Leandro Rocha




È com indescritível prazer que venho mais uma vez pôr-me a escrever para vocês, anseio que o deleite que vós sentireis seja tão ou mais que o que sinto neste momento, gostaria de frisar que o texto será escrito com toda sinceridade e a maior franqueza que meu coração permitir. De tal forma espero agradar meus muito estimados e magnânimos leitores.

Não, isso não se usa mais.

O português é uma língua viva e, portanto sofre mutações constantes e assim como as pessoas, as palavras velhas acabam retiras a pequenos redutos, não podemos mais usa-las em qualquer situação, na conversa com os amigos, eu, hoje, não posso mais estima-lo, eu devo gostar de você.

Aos mais tradicionais, os chamados velhos, é estar fora do mundo, é se perguntar se as outras pessoas conseguem perceber a profundidade de certas palavras, a importância dada a elas quando são usadas em certos momentos, será que notam a diferença de chamar uma mulher de linda ou de gata?

Entro em uma área complicada, os elogios, por serem dados a outras pessoas corre-se o risco de terem como resposta uma ofensa, ainda que branda: “está magnífica” “magnífica? Parece artificial meu bem”. Artificial não seria este que chama magnífica, chamar de boa?

Mas não tem jeito, os arcaicos sempre vão existir e os modernos serão cada vez mais numerosos e logo eles serão arcaicos também, lembra-se dos brotos? Eram as gatas da época e agora ficaram velhos e cafonas, quem sabe amanha, boa já não seja ridículo?

Deixei muitas perguntas que não precisa responder, mas farei uma agora que me dará resposta, mesmo que apenas no pensamento: o que você prefere? Linda ou filé?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vazio

Por Leandro Rocha

Só há a escuridão e nada se vê alem das sombras dos objetos, os passos são dados com extrema cautela, há o medo de esbarrar em algo, quebrar e se machucar, os olhos quase incapacitados contam com o auxilio das mãos, que tateiam o ar em busca de algum toque concreto em algo que exista.

Do lado de dentro só se ouve o som abafado que vem do lado de fora, um ruído identificável também há o som ensurdecedor do silencio, o ruído agudo e incessante que parece surgir de lugar nenhum e ir direto para o ponto mais profundo da cabeça, não há pausa.

Quando os olhos se acostumam com a escuridão, as sombras parecem se mover e pequenas explosões de luz parecem serem vistas nas paredes. Por instinto você as tenta fitar, mas seus olhos são muito lentos se comparados à velocidade da luz que elas possuem, na duvida, foi apenas impressão.

Nesse momento existe o encontro consigo, quando começamos a conhecer a pessoa mais difícil do mundo de encontrar, somos jogados na frente de um espelho muito honesto que nos mostra todas as nossas falhas e forças, nosso julgamento é muito mais cruel contra nós mesmos do que contra os outros.

O medo de dar passos no escuro supera e acaba por não mais andar, parado no meio do nada você se sente ainda mais vulnerável, mas ao menos pode evitar bater os joelhos em algo e se machucar. Parado parece melhor.

Não há vento e o som já foi embora, nosso julgamento já foi feito e não conseguimos mais andar, os olhos ainda só enxergam sombras e vultos. A frente não a luz, é um túnel sem luz. Sua cabeça começa a esfriar e o raciocínio começa a ser tão grande que preenche o vazio a frente. Você dá meia volta, abre a porta e sai, de volta pra luz.